No ensejo de aplicar as mudanças da antirreforma trabalhista, a direção da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) noticiou recentemente, através de seus meios de comunicações, que está abrindo a possibilidade do expediente à distância, o conhecido teletrabalho, ou “home office”. A justificativa apresentada para tal decisão (a qual estamos sempre debatendo e esclarecendo ser falsa) foi, mais uma vez, o “corte de custos para minimizar os prejuízos”. A desculpa veio acompanhada do já conhecido clichê: que o trabalho remoto seria melhor para o trabalhador, pois não necessitaria dele se deslocar até a sua unidade de trabalho e, ainda, que ele poderia fazer seu próprio plano (e jornada) de trabalho.
Precisamos avaliar muito bem o significado do teletrabalho, mais uma perversidade contida na (anti)reforma Trabalhista. Aos ecetistas, essa mudança merece redobrada atenção e crítica. Não é novidade os diversos problemas de saúde enfrentados pelos trabalhadores dos Correios em virtude das atividades laborais ora exercidas, bem como o sofrimento com a falta de assistência adequada. Temos, ainda, o compartilhamento dos custos altíssimos com as cobranças no plano de saúde (experiência negativa de mudança dentro dos Correios que nunca será esquecida).
Um dos pontos importantes a ser analisado com relação ao teletrabalho diz respeito à jornada de trabalho. Como na (anti)reforma trabalhista não é estipulada nenhuma regra para a jornada neste tipo de regime, o trabalhador se torna presa fácil dessa armadilha. Trocando em miúdos: o empregado não receberá nenhum adicional pelas horas extras trabalhadas. A menos que tenha organização e disciplina rígidas sobre o próprio trabalho, o funcionário se verá obrigado a fazer muitas horas extras para cumprir suas metas. Partindo desse ponto, é bom ressaltar que o SINTECT-MG recebe constantes reclamações da categoria denunciando a imposição e cobrança de metas abusivas.
Outro aspecto importante a ser observado é que em sua residência, o trabalhador não tem o ambiente preparado adequadamente para exercer as tarefas laborais – não dispõe dos equipamentos e EPI’s (Equipamento de Proteção Individual) necessários de modo a evitar danos ainda maiores na sua saúde. Como a legislação deixa brecha para esse tipo de situação, o trabalhador estará ainda mais propenso ao adoecimento físico e mental, muito mais do que ocorre hoje no ambiente de trabalho. Isso porque não tem como ter nenhum tipo de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), nem de Segurança e Saúde do trabalhador. O que já é muito deficiente na ECT, poderá ser intensificado e, nesse caso, a Empresa sequer poderá ser responsabilizada. Esse será mais um ônus para o trabalhador.
Também não podemos deixar de falar que o ambiente da Empresa é onde o trabalhador tem apoio, orientação e troca de ideias com outros companheiros de trabalho. O isolamento do ambiente social, de organização e de luta é um dos principais motivos pelos quais os trabalhadores devem resistir a tal imposição. Várias experiências de teletrabalho resultam em acirramento de doenças mentais, psicossomáticas, que são avolumadas com o isolamento social, tais como: síndrome de burnout, síndrome do pânico, dependência química etc. Adoecidos, uma saída “fácil” é o pedido de demissão ou, até mesmo, o suicídio. É a ECT “empurrando os trabalhadores para fora da empresa”.
A estratégia da direção dos Correios de isolar os trabalhadores em suas residências não representa nada “inovador”. Na verdade, empresas como a gigante Yahoo estão fazendo o movimento contrário, trazendo seus funcionários para trabalhar em rede como parte da estratégia para fazê-los produzir mais, por meio de incentivo e apoio à criatividade de seus funcionários.
No caso da ECT, a implantação do trabalho home office é para fazer a Empresa lucrar duas vezes mais: por meio da produção gratuita, a partir das metas abusivas, e pelo isolamento dos trabalhadores, o que os deixarão desorganizados e sem ter como melhorar o poder de compra do seu trabalho. Longe dos espaços de luta, o caminho estará “livre” para que a direção da ECT possa esfolar ainda mais seus funcionários. A divisão dos trabalhadores sempre foi uma estratégia dos patrões.
Como se vê, não há nenhuma preocupação, por parte dos Correios, com os trabalhadores. Pelo contrário, tal medida causará ainda mais adoecimento, piora nos salários e na qualidade de vida dos funcionários. Como a categoria de Correios é uma categoria de luta, de fundamental importância nos enfrentamentos do próximo período (que será de intensos ataques à classe trabalhadora), existe o interesse ainda maior de dividir, isolar e demitir esses trabalhadores.
O SINTECT-MG orienta os ecetistas a não aceitarem nenhuma imposição da direção da ECT para “aderir” a esse tipo de trabalho. Temos que ir na contramão do que propõe a ECT e ocupar os espaços de trabalho, exigindo as condições adequadas, bem como o pagamento justo pelas tarefas. Caso o trabalhador faça esse tipo de contrato, busque orientação, inclusive jurídica para evitar prejuízos. Se o trabalhador se sentir forçado ou mesmo lesado, procure o Sindicato.
Economizar nas costas do trabalhador para melhorar a vida dos parasitas de plantão, NÃO!
NÃO ao Home Office!
Demissão, NÃO!
NÃO ao sucateamento da ECT!