Entrevista realizada com um trabalhador que há 15 anos é Operador Técnico de Triagem (OTT). Para evitar eventuais retaliações e perseguições, optamos por não divulgar o nome do entrevistado.Confira a matéria na integra no site da Luta Pelo Socialismo - LPS.
Jornal Gazeta Operária: Por que você e outros companheiros aderiram à greve dos trabalhadores dos Correios?
Trabalhador OTT: O motivo básico por estarmos entrando em greve é pelas condições de trabalho, isso inclui as questões físicas e salariais. Na parte física, sofremos muita pressão. Os trabalhadores, a cada dia mais, estão defasados. Não temos reposição de trabalhadores. Há aqueles que pedem as contas, que saem da Empresa ou se aposentam, mas não existe concurso público que reponha esse efetivo. Outras pessoas não são chamadas para ocupar essas vagas. Os Correios colocam terceirizados, que não produzem serviços na mesma qualidade que o nosso, pagando valores bem menores, já que os terceirizados recebem menos e a gente é obrigado a manter a mesma qualidade de serviço.
Jornal Gazeta Operária: Na propaganda que a Empresa e o governo fazem, na tentativa de privatiza-la, se diz que as condições de vida e salários seriam muito boas. Os tickets de vocês são altos, o plano de saúde seria relativamente bom. O que você teria a falar sobre isso?
Trabalhador OTT: Teoricamente, no papel, parece realmente que é um valor alto, um ticket de R$1.064. São poucos os que têm. Porém, o nosso salário base não chega a R$1500. O salário é muito baixo. Além disso, as perdas que estamos acumulando são enormes. Por exemplo, temos cortes a cada ano porque o nosso aumento nunca acompanha a inflação. A inflação está “comendo” os nossos salários. Antigamente, você entrava nos Correios ganhando de oito a nove salários mínimos. Hoje, esse valor não chega a dois. Então, no ticket pode ser que ganhamos um valor relativamente bom, mas o nosso salário vem sofrendo defasagens e cortes a cada ano como a falta de reposição da inflação que a gente não tem. Muito pelo contrário.
O plano de saúde que temos começou sendo um plano excelente. Hoje, a cada dia que você vai num hospital, ou numa clínica, ele está descredenciado. Eles simplesmente não te informam, apenas te cortam e você tem que se virar e procurar outro local. Exames que antes eram feitos pelo Plano, agora não o são mais. Você acaba tendo que faze-los num consultório particular, pagando do seu bolso. Então não tem como a gente sustentar isso. Acabamos tendo que tirar do bolso o básico para sobreviver.
Jornal Gazeta Operária: Qual é a sua opinião sobre a aprovação, por meio de muita manipulação, da proposta da Empresa pela maioria dos sindicatos?
Trabalhador OTT: Eu gostaria de entender o que esses sindicatos viram de ganhos nessa proposta. Falando em números: inicialmente são 9%, porém é dividido. Seriam 6% para agora e 3% em fevereiro. Qualquer um que entende o mínimo de matemáticas sabe que de agosto a fevereiro de 2017, esses 3% já foram embora só com a inflação. Se bobear, teremos que pagar. Então não são 9% de reajuste, seriam apenas 6%. Fora que o plano de saúde nosso está caminhando para um processo, não sei se de privatização, mas vamos ter que começar a pagar por um plano pelo qual tínhamos usufruto de 100%. E está sendo cortado a cada dia.
Jornal Gazeta Operária: Qual seria o impacto que a cobrança de mensalidades do plano de saúde teria nos salários do trabalhador dos Correios?
Trabalhador OTT: O salário base de quem está começando [nos Correios], acredito que gire em torno de R$1.200. O valor do Plano chegaria à casa de uns 20% dos salários, já que você irá pagar uma mensalidade. Não creio que seja menos de R$200 mensais. Estou chutando baixo o valor. Então uma pessoa que ganha R$1.200 ainda teria que tirar os descontos e mais R$200 para o Plano de Saúde. O trabalhador terá que viver com um salário de R$700.
Eu tenho 15 anos de Correios. Com os descontos que eu tenho, o meu salário líquido hoje é d R$1200. Se eu descontar R$300 de um plano de saúde, eu vou viver com R$700, mesmo tendo 15 anos de Empresa.
Jornal Gazeta Operária: O que você poderia transmitir de mensagem para os trabalhadores dos Correios de Minas Gerais e de todo o Brasil, perante a situação que estará colocada no próximo período, em cima do aumento inevitável dos ataques contra os trabalhadores pela Empresa e pelo governo?
Trabalhador OTT: Eu acho que o momento é da gente realmente se unir. O trabalhador tem que ter consciência de que quem luta por ele é ele mesmo. A gente não pode só se filiar ao partido X ou Y porque cada uma, infelizmente, tem o seu lado. O momento agora é de que cada trabalhador, e eu falo não só dos Correios, mas de todas as categorias, tem que se unir. Nós sabemos o quanto ganhamos, o quanto estamos perdendo, o que o governo está fazendo com a gente. Então acho que está na hora de lutar, de batermos o pé, parar e fazer o que for preciso para repor o que estamos perdendo.
Fonte: http://lutapelosocialismo.org.br/644/entrevista-com-um-trabalhador-dos-correios-em-greve