Entrevista com a atendente comercial dos Correios, Roberta Castegliani, de Feira de Santana, Bahia, sobre sua luta contra o plano de saúde da Empresa. A mãe da funcionaria sofre de uma doença degenerativa e precisa de aparelhos para respirar e se alimentar. O Postal Saúde, por sua vez, tenta diariamente desligar os aparelhos e cortar os gastos com a dependente.Confira a entrevista na íntegra no site da Luta Pelo Socialismo - LPS
Roberta: Meu nome é Roberta Castegliani, sou atendente comercial dos Correios. Trabalho na Agência Central de Feira de Santana. Fui aprovada no concurso de 2011 e convocada em 2012. Desde então, minha mãe tem sido minha dependente no meu plano de saúde.
Jornal Gazeta Operária: Qual o problema de saúde da sua mãe?
Roberta: Ela tem uma doença degenerativa, progressiva, com nome de Paralisia Supranuclear Progressiva. É uma doença rara e grave que vai atingindo as musculaturas e gerando problemas respiratórios crônicos, diarreia crônica e outras problemáticas que envolve essa grave enfermidade.
Jornal Gazeta Operária: O plano de saúde dos Correios tem piorado muito os serviços prestados para os trabalhadores. Estamos aqui também com outro companheiros da Empresa, de Feira de Santana, que se chama Marcos Abraão. Ele também está passando por problemas com relação ao Postal Saúde.
Marcos Abraão: O Postal Saúde, na verdade, impôs diferenciação muito grande em relação ao plano de saúde anterior. O primeiro ponto é a questão dos custos, que cresceram de forma absurda para a Empresa. E também a questão referente aos credenciados e à quantidade de procedimentos que outrora era contemplada pelo Correios Saúde. Podemos perceber que hoje há uma diferença nos valores, que impacta o salário dos trabalhadores, principalmente dos Ecetistas. Quanto à situação da Roberta, é realmente nítida a necessidade de auxílio médico por 24hs pela genitora dela, e o Postal Saúde está tratando com total descaso a situação da companheira. Eu gostaria que ela relatasse mais algumas situações que a incomodam, com relação a ligações, auditorias frequentes cobrando situações que, de alguma forma, tinham que ser de uma perícia médica bastante elaborada. Só assim seria possível dar o aval em relação à questão de desvencilhar ou não a mãe dela do Postal Saúde.
Jornal Gazeta Operária: Inclusive parece que o Postal Saúde está querendo desligar os aparelhos pelos quais a tua mãe continua viva. Você poderia relatar um pouco essa situação?
Roberta: Isso. Essa situação eu a tenho vivido constantemente, sob ameaças através de ligações no meu telefone pessoal, no meu celular, através da responsável pelo setor de Home Care do Postal Saúde. Bem como na presença da auditora, uma enfermeira, que vem toda semana na minha casa para tentar fazer a retirada do Home Care. Várias vezes me vi acuada, desesperada, porque se minha mãe não tiver a máquina para respirar e se alimentar, ela não vai resistir. Então, sob muito desespero, eu recorri à Justiça e hoje minha mãe se mantém no sistema de Home Care devido a uma liminar que o juiz concedeu. Às vezes, eu estou trabalhando, recebo uma ligação e fico desesperada. Tenho que parar para atender essa ligação, inclusive no horário do meu trabalho, quando sabem que eu estou trabalhando [lembrando que as metas impostas pela Empresa são escravagistas, pois o objetivo é desmoralizar o serviço e os trabalhadores para facilitar o acelerado processo de privatização]. Da última vez me ligaram, numa sexta-feira, para me comunicar que, em 48 hora, a minha mãe seria desligada do Plano. Ou seja, eu teria o final de semana, até a segunda-feira, para tentar uma liminar judicial para garantir a vida da minha mãe. Então, assim como eu, acredito que outros trabalhadores estão sendo atacados pelo Postal Saúde. Inclusive, aqui, na minha cidade, tem outro caso, da mãe de um colega, um carteiro aposentado do centro de distribuição, que também tem sofrido bastante porque o Plano manda a mesma auditora, que vem à minha casa, ir à residência dele fazer a retirada do Home Care. E são pessoas que visivelmente têm patologias graves e necessitam de assistência médica. São pessoas que dependem de máquinas para estarem vivas, para sobreviver. Minha mãe hoje depende desses cuidados médicos que o Plano está disponibilizando, porém vem ameaçando que vai retirar. Então, hoje, a minha situação é de total desespero; inclusive, mandei um e-mail para o Postal Saúde, clamando pela vida de minha mãe.
Jornal Gazeta Operária: Essa situação gravíssima no caso da Roberta, também se reflete no atendimento em serviços básicos como consultas. No caso do Marcos Abraão, que também é trabalhador dos Correios (carteiro), ele tem que pagar altos valores pelas consultas para o filho.
Marcos Abraão: O fato é que antigamente, no Correios Saúde, as consultas tinham um valor de alguma forma acessível para nós empregados. Hoje, no Postal Saúde, além de ser uma consulta com valor fixo, se utilizar ou não os serviços, que de fato impacta diretamente em nossos rendimentos. Então esse valor desfavorece a nós empregados. Queremos de fato um plano de saúde que venha privilegiar não só em atendimento, quanto em valores. Com certeza essa situação que estamos vivenciando aqui é de total descaso com a saúde, tanto dos empregados quanto dos seus dependentes. A vida infelizmente, por meio dessa retratação aqui, não vale nada. O empregado de alguma forma doa através da sua mão-de-obra, dos seus esforços, lucros e mais lucros para a empresa. E hoje, quando o funcionário mais precisa dessa instituição, Postal Saúde, ela pensando em sua lucratividade, despreza o empregado de tal forma. E, com certeza, através dessa ferramenta, nós estamos propagando a todos vocês funcionários, a todo o Brasil, denunciando esse Postal Saúde, que com certeza não favorece a nós ecetistas.
Jornal Gazeta Operária: Roberta, como era o atendimento anos atrás com o Correios Saúde?
Roberta: Nunca tive problemas com o Correios Saúde. Como citei anteriormente, desde quando entrei nos Correios, que fui aprovada, minha mãe foi incluída no Plano e eu nunca tive problemas. Eles começaram a perseguição de novembro para cá, quando já era Postal Saúde e as necessidades dela aumentaram. Então, eles não viram minha mãe como um ser humano que precisa de cuidados e sim como alguém que estava dando despesas para o Plano.
Fonte: http://lutapelosocialismo.org.br/650/postal-saude-dos-correios-lucros-de-morte