Além de todos os ataques sofridos pelos trabalhadores com a Lei das Terceirizações (13.429/2017) e a nova Lei Trabalhista (13.467/2017), o setor bancário protagoniza o fechamento de um grande número de postos de trabalho devido ao crescente investimento em automação da rede de atendimento e o direcionamento de clientes para estruturas digitais.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, CONTRAF-CUT, divulgou no dia 2 de janeiro a Pesquisa de Emprego Bancário (PEB) do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), que revela os números do desemprego no setor. De acordo com a pesquisa, os bancos fecharam 17.711 postos de trabalho no país entre janeiro e novembro de 2017. O saldo negativo foi 53,7% superior em relação ao mesmo período em 2016 (in: http://www.contrafcut.org.br/noticias/bancos-fecham-17-711-postos-de-trabalho-de-janeiro-a-novembro-de-2017-9a27).
Em nome da eficiência operacional, os bancos buscam reduzir custos das operações com folha de pagamentos. Só o Itaú, após a fusão com o Unibanco, foi responsável pelo fechamento de 391 agências físicas, entre 2014 e 2017. Algumas são substituídas por agências digitais ou se tornam Postos de Atendimento Bancário, mas a maioria deixa de existir. Alguns bancos, como Neon, Inter e Next, já nasceram digitais.Além disso, com o Internet Banking, a cada ano as agências participam menos nas transações financeiras.
Os planos de aposentadoria incentivada e os Programas de Demissão Voluntária (PDV) também colaboram para elevar esses números. O programa de reestruturação do Banco do Brasil, posto em prática em 2016, fechou 20.553 postos de empregos. O PDV da Caixa foi responsável pelo fechamento de 47% dos postos de trabalho da empresa.
O cenário de crise
A terceirização irrestrita e o trabalho intermitente tornaram-se realidades previstas em lei de acordo com as contrarreformas aprovadas pelos golpistas que tomaram o poder no Brasil. Essa tendência mundial se deve à crise do capitalismo que não pode mais obter lucros da produção e, portanto, precisa descartar e explorar ainda mais os trabalhadores.
A “uberização” do trabalho já envolve diversas atividades como motoristas, médicos, veterinários, professores, etc. Nesse tipo de oferta de trabalho, os custos e riscos recaem sobre os profissionais enquanto a empresa-aplicativo lucra sem a necessidade de se comprometer com vínculos empregatícios. Os bancos que oferecem atendimento em horários diferentes dos expedientes das agências tendem a se tornar empresas-aplicativos com custos e riscos dos procedimentos recaindo sobre os clientes.
Esse é o cenário em que a classe trabalhadora terá que atuar no atual momento de crise econômica. Porém, a crise não foi criada pelos trabalhadores e não pode ser paga por eles. O governo entreguista de Michel Temer planeja transformar a Caixa, por exemplo, em uma Sociedade Anônima - S/A, o que facilitará, no futuro, a abertura de capital do Banco para venda aos grandes capitalistas, que dominam o sistema financeiro mundial e vivem da especulação financeira. A privatização significa destruir os compromissos sociais da estatal, inviabilizando todos os projetos e benefícios sob a guarda da Caixa, e ainda grande parte do mercado imobiliário brasileiro. Portanto, a luta contra a privatização da Caixa é de interesse de toda a classe trabalhadora.
O fim do emprego não elimina o trabalhador
É preciso, sim, proteger empregos, auxiliar desempregados e fortalecer a organização sindical em nome das reivindicações específicas de cada categoria. Mas, mais do que isso, é urgente ampliar a consciência de que a redução de empregos é uma estratégia da burguesia para reduzir salários e controlar a classe trabalhadora. Se o capitalismo não pode mais dar espaço para reformas que beneficiem os trabalhadores, a luta deverá ser organizada não apenas em função de reivindicações pontuais, mas, acima de tudo, para fortalecer a classe trabalhadora contra os ataques do grande capital e pela revolução social.
Toda a riqueza existente na sociedade é fruto do trabalho dos explorados, portanto, são eles que devem decidir sobre seu destino: suas condições de trabalho; o remanejamento de funções; as jornadas, os serviços públicos e benefícios a que têm direito; etc..O fechamento de postos de trabalho divide os interesses entre os que têm e os que não têm empregos, mas os que ainda estão empregados não podem nutrir a esperança de fugir à sorte dos desempregados. Quando postos de trabalho são fechados, todos são atingidos pela falta de oferta de trabalho e pela redução salarial.
Sindicatos burocráticos deverão ser superados pelos trabalhadores
O avanço tecnológico só será um aliado da emancipação dos trabalhadores com o fim da exploração de uma classe sobre a outra. Até lá, os trabalhadores devem se organizar em unidade, abandonando as divisões por categorias e regiões. Como forma de pressão sobre os empregadores, os sindicatos reformistas podem até buscar defender os interesses de suas categorias isoladamente, mas não podem iludir os trabalhadores sobre a eficácia dessa estratégia.
Recentemente o Comando Nacional dos Bancários entregou à Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) um Termo de Compromisso com 21 pontos que, segundo o documento, visam a proteção dos empregos e de direitos históricos da categoria, além de resguardar os trabalhadores de ações que podem fragilizá-los ainda mais diante do poder dos bancos. Porém, mesmo que a categoria supere os entraves da burocracia sindical e se prepare para uma luta verdadeira, com greves e manifestações, as chances de reverter a destruição dos empregos neste setor serão poucas se essa luta não for em unidade com todas as categorias na mira das privatizações (no caso dos trabalhadores da Caixa e do BB) e com a classe trabalhadora em geral, contra os planos imperialistas de destruir direitos trabalhistas e abocanhar as riquezas nacionais.
De acordo com a concepção Marxista dos Sindicatos, esboçada no “Programa de Ação da Internacional Sindical Vermelha”, escrito por Alexandre Losovsky, em 1921, as organizações de luta dos trabalhadores devem defender a união de interesses entre os que trabalham e os que não trabalham e abordarem o enfrentamento ao desemprego a partir do ponto de vista geral da classe operária. A luta unificada de todas as categorias contra o desemprego significa o fortalecimento dos trabalhadores diante das perversidades do sistema capitalista e permitirá elevar a consciência sobre a necessidade de se organizar a tomada de poder pela maioria. Somente a revolução social colocará fim à exploração de uma classe sobre a outra.